domingo, 17 de janeiro de 2010

MELHOR EXPLICAÇÃO NÃO HÁ, HOUVE OU HAVERÁ

ESSA É CLÁSSICA, JÁ LI, RELI E, QUEM NÃO LEU, QUE A LEIA.
TRADUZ BEM O QUE SENTE A JAGUARADA QUE PENSA COMO NÓS.
VAI COM O > DO CrTL"C" e CrTL"V" TAMBÉM!

> Não queira ter uma relação com seu carrão cheio de botões, reboque
> cromado para não puxar nada, flex powers, trios elétricos, fly by wire,
> e ABS igual à que eu tenho com os meus.. Você vai perder. Meus carros têm
> nome, eu converso com eles e entendo o que se passa no seu coração.
> Ninguém olha para você nesse esquife filmado com vidros escuros como o
> breu. Para mim, todos olham e acenam.
>
> Se o seu carrão pifar no meio da rua, ou numa estrada no fim do mundo,
> ninguém vai parar para te ajudar. E se alguém se aproximar, você vai
> achar que é ladrão. Se um dos meus estancar no meio da avenida mais
> movimentada de São Paulo, vem um monte de gente para empurrar. E é o pai
> de um que teve um igual ao meu, o tio do outro que dirigia um táxi
> idêntico, a avó de um terceiro que ainda tem o seu guardado na garagem
> que só usa para ir à feira, e se eu não souber o que fazer para ele
> pegar de novo, alguém saberá.
>
> Meu kit de sobrevivência nas ruas é barato. Um joguinho de ferramentas,
> desses que se compram em camelôs, com uma chave de fenda, um alicate,
> algumas chaves de boca. Um frasco com gasolina para jogar no carburador
> de vez em quando, um galão de água para refrescar o radiador. Oh, que
> coisa mais primitiva, dirá você.
>
> OK. Tenha uma pane no seu carrão eletrônico para ver o que acontece. Nem
> tente abrir o capô. Você não sabe o que tem lá dentro. Cuidado, ele pode
> te engolir. Torça para o celular estar com o sinal pleno e chame um
> guincho, a seguradora, o papa. Sente e espere. Seu carrão só vai
> funcionar de novo quando conectarem um laptop nele. E prepare o talão de
> cheques.
>
> Meus carros, não. Têm carburadores, distribuidores, diafragmas, bobinas
> e velas, tudo à vista. Sei quando o piripaque é na bomba de gasolina.
> Sei quando é sujeira da gasolina. Sei assoprar um giclê. Aliás, sei onde
> fica o giclê. Procure algo parecido na sua injeção eletrônica.
> Seu carro é um emérito desconhecido sem história ou currículo. Os meus
> têm 40 anos ou mais, já passaram por muita coisa nessa vida, e quando
> saíram de uma concessionária, décadas atrás, estacionaram na garagem em
> forma de sonho realizado. Carro fazia parte da família, antigamente.
>
> Ah, mas o meu tem ar-condicionado, disqueteira e controle de tração,
> dirá você. Sim, mas você nunca terá o prazer de dirigir de vidros
> abertos e cotovelo para fora da janela, meu rádio toca as mesmas
> músicas, e não me faça rir com o seu controle de tração. Quantas vezes
> ele foi necessário?
>
> Além do mais, existe um negócio chamado prazer. Prazer de ter algo que
> lhe é caro e precioso, mesmo que não valha muita coisa. Carros iguais ao
> seu todo mundo tem. Vejo aos milhares todos os dias, e nenhum deles tem
> a cara do dono. Os meus têm. E quando eles quebram, eu mesmo conserto. E
> eles me agradecem andando de novo, fazendo com que as pessoas sorriam
> quando passam, fazendo barulho e soltando fumaça.
>
> Não há nada como um automóvel que faça alguém sorrir.
>
> * /Flavio Gomes, jornalista, tem sete DKWs, quatro Volkwagens e
> uma Lambretta, todos fabricados entre 1958 e 1970.

3 comentários:

  1. Muito bom esse texto, adorei quando li pela primeira vez no teu Orkut (até guardei aqui no meu PC) e reli recentemente, é muito bom mesmo! Me lembra o tempo que tinhamos a F-100 63 com motor diesel adaptado do trator Cinquentinha da Massey Ferguson, e quando "quebrava" nós mesmos arrumávamos (ajudando o mecânico), ...bons tempos!!!

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  2. Fantástica descrição ...

    Carro antigo te leva pra passear com a alma e coração ... Carro novo é só para ir do ponto A pro ponto B !

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  3. Esqueci de dizer :

    Andar no Garboso faz bem pra alma !

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